sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Oração dos 365 dias



Tente expulsar teus demônios:

Esses que te paralisam na hora da decisão,

esses que silenciam tua já pouca fala.


Tente expulsar teus demônios:

Esses que riem da tua queda,

esses que te pregam peças.


Tente excomungar teus demônios:

Sem padre, sem reza, talvez choro, talvez vela

ou quem sabe um corte em tua quimera.


Mas tente. Tente agora.

Já que ele te espreita nessa poesia,

feita por anjo maldito,

expelindo um hálito de fera

meu inconveniente hospedeiro

que nesse peito martela.

(Berg Nascimento)


** "Todos nós temos de decidir por nós mesmos com quanto pecado conseguimos viver"
Da série Boardwalk Empire

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

D N A




Teus glóbulos mais que vermelhos
brincam num tubo de ensaio.
Ensaio em dizer algo.
Mas pra quê?
Agora teu beijo, cabelo, saliva e unha
carregam nossos laços num código.

Meu amor se mostra e evolui…

(Berg Nascimento)

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Chuva Ácida





Pobre estátua de bronze
vim reduzir seu brilho,
devorar toda sua face
e esculpir ao meu estilo.

Mãos que te fizeram
não souberam proteger,
tu cairás aos poucos
logo mais o que vais ser?

De certo metal retorcido
então minha vitória final,
nuvem carregada de enxofre
testemunha do seu funeral.

Pobre estátua de bronze
agora derretido metal
enfeita os bueiros da cidade
morre em sua terra natal.

(Berg Nascimento)

domingo, 26 de setembro de 2010

Primeiro Poeta Gênesis




Se não existisse
o bicho homem,
ainda assim
poemas surgiriam.

Mesmo que habitado
somente por animais,
ainda assim
versos brotariam.

Mas pra quem existiriam?
Quem iria contemplá-los?

Quando a abelha
pousa sobre a flor,
faz sua contemplação
que de fotossíntese
se fez vermelha,
repouso da velha aranha.

A margem do rio
observa o desfile
sereno das águas
e se desmancha em adoração
querendo sua essência.

A cada ato uma reverência
onde o tempo são páginas
e a ausência de Camões
se faz sob a mão de Deus.

(Berg Nascimento)

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Cyber Haikai




Ursa Maior -
é o céu na mão
jogos de ligar pontos.
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Multicores!
Sol invade o prisma
e colore minha casa.
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Alucinações pela manhã.
Gotas lisérgicas
temperam meu café.
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A menina dos olhos
esconde um cristal:
lágrimas, soro e sal.
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Tatuagem –
dragões, crânio, caveira...
A pele sangra e aceita.
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Ciberespaço:
o homem se exclui
e passa a ser máquina.
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(Berg Nascimento tentado fazer haikais)

http://www.seabra.com/cgi-seabra/haikai/randtxt.pl/haikai.html

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Jesus Ponto Com

Vamos conseguir a paz
por meio de um spam,
vamos seguir salvado baleias
nesse ativismo preguiçoso
direto de nossas cadeiras.

Vamos dizer um SIM
bem maiúsculo para o fim
da fome no mundo clicando
na mais nova rede social.

Mas quando o menino do sinal
encostar com seus chicletes,
não esqueçam de usar o nosso
mais novo vidro elétrico.

Então seguiremos unidos
levantando a bandeira igualitária
E assim, confortavelmente
destruiremos todo mal.

Mas o mal está lá fora…


* Poesia inspirada no blog de Renata Lemos
http://renatalemos.posterous.com/acordem-alo-os-bandidos-estao-la-fora

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Contagem Regressiva de um Big Bag Interno




Desse poema frio
Mas de placas incandescestes,
Queimaduras do mais alto grau
Irão te esfoliar delicadamente.

Dessa poesia falsa
Mas de enigmas verdadeiros
Há de rasgar os tímpanos
Dos com ouvido vacilante.

Desse poema opaco
Mas de potente reflexo da alma
Há de assombrar teus fantasmas
Adormecidos em tua calma.

E o verso surgirá como bolhas
No lago tranquilo de outrora
E de lago se fará usina
Que mão nenhuma controla.

(Berg Nascimento)

sábado, 21 de agosto de 2010

Poesia em Ruínas

Desfragmentação.
Todas as letras e palavras sob destroços,
Poesia arruinada sem vestígios.

Poesia que nunca foi lida
Por isso mais morta que todas
As que encontraram um destino melhor.

E aquilo que um dia foi poema
Agora tornou-se partícula indivisível
Menor que um átomo
Menor do que eu.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Teia Amorosa




Amor em stand by
Amor pra compartilhar
Amor pra fazer versos
Amor pra versificar.

Amor que o mundo todo vê
Amor que todo mundo sabe
E se ainda assim não souber
O quanto de amor me cabe?

(Berg Nascimento)

terça-feira, 20 de julho de 2010

Sensores

Tento entender os caracteres embaralhados
que o teclado alinha de forma suave.
Minhas pupilas secas e semi-fechadas
rangem como cortinas velhas.

A f a s t o - m e.

Lutar contra meu corpo
nunca foi o que de melhor faço.
Se ao menos fosse como essas
máquinas ao meu redor:
De aço, chumbo, impenetráveis...

Luzes artificiais me engolem
e anunciam o fim do dia.
Ou será o meu?

(Berg Nascimento)

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Polaroid em Verbos




Mirar teus olhos vermelhos.
Parar o tempo.
Enquadrar.

Teu corpo meio pequeno.
Breve momento.
Esperar.

Mas esses breves segundos
sumiram no tempo.
Desbotar.

(Berg Nascimento)

quinta-feira, 8 de julho de 2010

A Janela dos Navegantes




Meu oceano é de silício,
não dependo do vento.
Estou ancorado,
Mas ainda assim navego.

A minha bússola
aponta somente o que quero ver.
Sou Almirante e todo a tripulação
em um só corpo.
Posso ter mais heterónimos
que Fernando Pessoa essa hora.

Meu diário de bordo uma blogosfera
aberta à outras Naus.
Um porto nunca seguro.

E quando navegar me cansa,
adormeço sobre as ondas
de uma bela canção.

(Berg Nascimento)

terça-feira, 6 de julho de 2010

Centelha Cotidiana


Energicamente amo
Roboticamente trabalho
Ininterruptamente choro
Claustrofobicamente me calo.

(Berg Nascimento)

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Flerte Virtual

Rascunhei uma carta
Basta um click para enviar.
Mas as falanges travam
Paralisam-se diante do teclado.

O charme do Homem de Amarelo gritando:
-Carta para o número tal!
Acabou.

A entrega é instantânea,
Basta um click
E o amor já está lá.

Morro de vergonha.
E você nem pode me ver
Por trá de fios e redes.

Ok, enviar...
E ela retorna com erro fatal:
Foram enviadas mais de mil cartas
Retorne a outra caixa postal.

(Berg Nascimento)